O Fila Brasileiro teve sua origem no interior do Brasil, sendo primeiramente descrito nas fazendas do sul do Estado de Minas Gerais na primeira metade do século XX, motivo pelo qual considera-se esta área como “Berço da Raça”. Entretanto, não se descarta a existência de populações nativas em outras partes do mesmo Estado e demais Estados limítrofes, os quais faziam parte das rotas comerciais de gado utilizadas à época.
Também conhecido como Cão Onceiro, Cão Boiadeiro, Amarelo de Boca Negra e Cabeçudo Boiadeiro, este último em razão da desproporção visual da cabeça com o resto do corpo, devido à magreza resultante do trabalho intenso e alimentação nem sempre satisfatória. Deste ambiente severo e difícil surgiu, por seleção natural, a sua conhecida rusticidade, uma das características marcantes da Raça.
Sua utilização, e seleção, visava unicamente o trabalho na lida com o gado e na guarda da propriedade e rebanho, tarefas que realizava por instinto e que lhe exigiam coragem e determinação notáveis. A extrema fidelidade, meiguice e apego com seus donos lhe fez desenvolver também, aliados a seu robusto temperamento, uma forte ojeriza a estranhos, razão esta que impunha que qualquer apresentação de novos integrantes/trabalhadores ao local, para ser bem sucedida, deveria se cercar de cuidados e certa paciência. Nesses casos, apesar de, inicialmente, não permitirem nenhuma aproximação ou toque, não se negavam ao trabalho com os novos parceiros. Atualmente é utilizado, com sucesso, principalmente nas cidades como cão de guarda.
Sobre sua constituição genealógica, e raças formadoras, dada a total falta de registros, elementos ou informações determinantes neste sentido, acreditamos que a melhor definição seria imprecisa. Definitivamente, pode-se afirmar que a Raça Fila Brasileiro foi constituída e modelada de forma única e exclusivamente natural, sofrendo muito poucas intervenções humanas, e estas somente no intuito de uma triagem empírica e sempre voltadas a um melhor aproveitamento de suas funcionalidades originais, em seu ambiente nativo.
ASPECTO GERAL
Raça tipicamente molossóide, de talhe grande e forte, apresentando massa considerável e forte ossatura, porém sem exageros. Figura retangular, compacta, dando a impressão de grande concentração de força, todavia sem perder a harmonia e a proporcionalidade. Em hipótese nenhuma deve ser, ou parecer ser, pesado ou lento. As fêmeas devem exibir feminilidade bem pronunciada, destacando-se dos machos.
CARÁTER E TEMPERAMENTO
Dotado de coragem, determinação e valentia notáveis. Aos estranhos demonstra sua ojeriza, aos donos demonstra sua meiguice, fidelidade e obediência que aliadas ao senso de território torna-o inexcedível guardião de propriedades. Instintivamente mostra-se exímio na lida e prática com gado bovino. Como resultado de seu caráter, fora dos limites de seu domicílio, quando não admoestado ou atacado, pode mostrar-se indiferente aos transeuntes.
MOVIMENTO
PASSO: Largos, elásticos, que lembram os dos felinos. Movimenta-se com apoio bilateral (passo de camelo), o que lhe permite movimentos gigantes com balanço lateral do tórax e dos quadris, que se acentuam quando a cauda está erguida. Quando a passo, via de regra, mantém a cabeça abaixo ou ao nível da linha do dorso. Articulações frouxas, principalmente nos membros e dorso, caracterizam a raça e permitem mudanças bruscas de direção.
TROTE: Fácil, suave, livre, de passadas largas, com bom alcance e rendimento.
GALOPE: Rápido e poderoso, graças às suas angulações e musculatura. Alcança velocidades inimagináveis para cães de seu porte.
CABEÇA
Braquicéfala, grande, pesada, bem proporcionada ao corpo e de boa profundidade. Vista de lado, o comprimento do focinho deverá ser igual ou levemente menor que o comprimento do crânio. A face lateral poderá apresentar ruga iniciada na altura dos olhos até a mandíbula. Orelhas grandes grossas e pendentes, stop quase que imperceptível e o
occipital deve mostrar-se destacado. Visto de frente, o crânio, de formato trapezoidal, deve mostrar-se largo e levemente curvo nas laterais, o focinho, com linha superior paralela à linha do crânio, deve ser forte e com curvas bem convexas.
CRÂNIO: Grande, largo, estreitando-se em direção ao focinho, ao qual deverá ser integrado de forma suave e harmoniosa. Visto de lado, mostra uma curva muito suave, quase imperceptível, do stop ao occipital, que deve ser protuso e bem destacado da nuca. Visto de frente, suas laterais descem em curvas muito suaves, quase na vertical, passando pelas parótidas, que não devem se destacar.
DEPRESSÃO FRONTAL (STOP): Visto de frente, muito pequeno, praticamente inexistente, prosseguindo em sulco até o meio do crânio. Visto de lado, em razão de ser formado pelas arcadas superciliares, mostra-se destacado, porém baixo e inclinado.
FOCINHO: Retangular, forte e largo, com profundidade inferior ao seu comprimento e sempre em harmonia com o crânio. Linha anterior próxima à vertical, daí iniciando-se perfeita e ampla curva até a linha inferior, formada pelos lábios superiores, seguindo-se paralela à linha superior. Lábios superiores flácidos, grossos e pendentes, que se sobrepõe aos inferiores, dando ao focinho o aspecto de profundidade.
LÁBIOS INFERIORES: Firmes na ponta do maxilar, porém soltos e com bordas dentadas nos lados. Comissura labial aparente.
LINHA SUPERIOR DO FOCINHO: Reta, admitindo-se ligeiro desvio ascendente no trecho do septo (nariz romano) porém, sem nunca “cinturar.” Visto de frente, deve o focinho apresentar ampla e convexa curva garantindo boa implantação dentária, sob os olhos deve apresentar-se bastante rotundo, estreitando-se levemente em direção à linha média, e novamente alargando-se suavemente em direção à curva anterior dando origem a rima labial que deve apresentar-se em ampla curva.
NARIZ: Narinas largas, bem desenvolvidas, ocupando grande parte da frente, porém não a totalidade, do maxilar superior. Trufa nasal sempre na cor negra.
MORDEDURA: Em tesoura. Os dentes do Fila, num total de 42 (22 superiores e 20 inferiores), não são altos, porém destacam-se pela largura. Incisivos superiores de pontas afiladas. Caninos e pré-molares muito fortes e afastados.
ORELHAS: Grandes, grossas, caídas lateralmente em forma de V, com raiz muito larga e inclinada. Inseridas na parte mais posterior do crânio, estreitam-se em direção a sua extremidade, que deve ser arredondada. O bordo anterior da raiz deve estar à altura dos olhos ou levemente abaixo. Em atenção, podem apresentarem-se em posição mais alta. Permitidas orelhas com implantação tida como “em rosa”.
OLHOS: Conferem expressão triste ao fila quando este encontra-se em repouso, assim como expressão enérgica e determinada estando ele em atenção ou em ataque. De tamanho médio a grande, formato amendoado, bem afastado, inserido no crânio aproximadamente à altura da linha superior do focinho. Suas cores vão do castanho escuro ao amarelo, sempre em relação à cor da pelagem. Devido à pele solta, as pálpebras podem apresentarem-se caídas, o que não constitui falta.
PESCOÇO
Postado a aproximadamente 30 graus da linha da cernelha, mais curto que comprido, mostrando forte musculatura e poderosa força, com linha superior levemente abaulada. A garganta deve ser provida de duas barbelas bem definidas e marcadas, pendentes, soltas, descendo longitudinalmente até a ponta do antepeito.
LINHA SUPERIOR
As pontas das escápulas, ao formarem a cernelha, não se juntam e mantêm-se bastantes separadas, o que resultará em uma cernelha baixa, plana e mostrando aparente inclinação até o ponto da dobradiça. Daí em diante a linha muda de direção e, em leve angulação, ascende em linha reta em direção à ponta do ílio (garupa). Dorso forte sem apresentar qualquer sela.
GARUPA
Forte, Larga, inclinada a aproximadamente 30 graus da horizontal, levemente curva, iniciando na ponta anterior da pelve (ílio) e seguindo até sua ponta posterior (ísquio ou ponta da nádega). A ponta do ílio deve mostrar-se à mesma, ou levemente superior à altura da cernelha. A medida tomada da ponta do ísquio até a ponta do antepeito determinará o comprimento do cão. Vista por trás, a garupa deve ser ampla e com largura igual à largura do tórax. Nas fêmeas, poderá mostrar-se mais larga.
TRONCO
Forte, largo e profundo, demonstrando o tórax mais comprido que o abdome.
TÓRAX
Costelas de bom arqueamento, resultando em um peito largo e profundo, atingindo a ponta do cotovelo, sem todavia influenciar a posição, ou movimentação, do ombro. Antepeito (peitorais) bem salientes. Ombro mostrando-se bem estruturado.
LINHA INFERIOR
Origina-se na ponta do peito (manúbrio esternal), descendo em ampla curva para formar o antepeito , seguindo em linha reta e paralela ao solo até a extremidade posterior do esterno (xifóide) , iniciando suave inclinação (ventre) até a bainha do pênis , sem contudo mostrar-se esgalgado. Nas fêmeas, esta inclinação vai até a aba do flanco, que nelas se mostra bem desenvolvida e impede a visão da ascendência da linha abdominal, influenciando a linha inferior.
CAUDA
Raiz muito larga, afinando harmoniosamente até alcançar a ponta do jarrete. Bem implantada, não deve interferir na linha da garupa. Sua inserção deve ser média, elevando-se sem contudo postar-se na vertical, enroscar-se ou dobrar sobre o dorso. Costumeiramente, apresenta-se formando em sua ponta, uma curva aberta (anzol).
TREM LOCOMOTOR ANTERIOR (Dianteiro)
OMBROS: Ocupam o espaço entre a cernelha e o esterno, sendo constituídos de ossos largos e de igual tamanho (escápula e úmero). O primeiro postado a 45 graus da horizontal e o segundo a 90 graus deste, formando a articulação escápulo-umeral, cuja extremidade forma a ponta do ombro. Situados à meia altura, entre a cernelha e o esterno, devem estar posicionados atrás do nível do antepeito , no qual nunca devem interferir.
MEMBROS: De ossatura forte e retos. Carpos fortes e aparentes. Metacarpos curtos e ligeiramente inclinados.
PÉS: Formados por dedos fortes, bem arqueados, levemente afastados entre si, sempre apontados para frente e apoiados em digitais espessas que contornam as almofadas plantares, que devem ser largas, espessas e grossas. Dotados de unhas escuras, porém podendo apresentarem-se brancas quando os dedos assim o forem.
A medida compreendida entre a cernelha e o solo determinará a altura do animal, estando o cotovelo (olecranio) postado à meia altura dessa distância e coincidindo com o esterno.
Vistos de frente, devem os membros mostrarem-se paralelos, evidenciando bons aprumos.
TREM LOCOMOTOR POSTERIOR (Traseiro)
GARUPA: (Já descrita anteriormente)
COXA: Estruturada pelo fêmur, angulado a 90 graus do ilíaco ou aproximadamente 60 graus da horizontal, larga, com bordos abaulados, formados pelos músculos que descem do ílio e ísquio e formadores da nádega.
PERNA: Estruturada pela tíbia, que deve ser bem angulada, salientando o joelho e projetando o jarrete para trás. Tarsos fortes e aparentes. Metatarsos bem inclinados e mais altos que os metacarpos.
PÉS: Iguais aos anteriores, porém mais ovalados. Não devem apresentar ergots (unhas perdidas).
Vistas por trás, devem as pernas mostrarem-se paralelas e bem musculadas nas faces e bordos.
PELE
Grossa, solta em todo o corpo, principalmente no tronco e no pescoço, onde deve formar barbelas aparentes e pendentes, porém sem exageros. Estas se alongam até a ponta do peito, onde se unem, podendo prosseguir pelo abdome, como uma pequena aba de pele.
PELAGEM
Baixa, curta, bem acamada, com pelos rústicos, grossos destacados individualmente, mostrando-se mais bastos na cernelha.
COR
Admitida em todas as tonalidades de amarelo, do baio ao vermelho.
Todas as tonalidades admitidas, acrescidas de leve sombra acinzentada.
Cinza claro ou prateado.
Tigrados, araçás ou rajados, tendo como fundo as cores das hipóteses acima. As rajas ou listras, na cor preta, devem ser finas, de bom contraste com o fundo, de uma só largura em toda sua extensão, de comprimento variável e diverso, distribuídas irregularmente por todo o corpo podendo unir-se em V na linha superior.
Todas as cores admitidas com manchas (marcações) brancas estas preferencialmente simétricas.
Brancos - devem obrigatoriamente serem portadores de grandes marcações tigradas ou lisas nas cores admitidas. O branco deve ser puro, e sua cutânea (pele) deve ser uniforme, não podendo a cutânea apresentar manchas escuras .
Todas as cores permitidas porém com orelhas , máscara ou meia máscara negra.
As cores mais uniformes, e de melhor pigmentação, terão preferência.
ALTURA
Situando-se entre 60 cm a 65 cm para fêmeas e de 65 a 70 cm para machos, aceitando-se pequenas variações desde que mantidas a harmonia de proporções.
FALTAS
Desqualificantes
1. Atipicidade
2. Conjunto de faltas graves/muito graves
3. Nariz cor de carne
4. Prognatismo influenciando a linha anterior do focinho
5. Prognatismo inferior acentuado
6. Quaisquer faltas dentárias, exceto o P1
7. Olhos louçados
8. Brancos sem qualquer marcação ou manchas pilares
9. Cutâneas branca ou rosada com manchas pretas
10. Cripto ou monorquidismo
11. Uso de artifícios para induzir o árbitro a erro
12. Evidente covardia
13. Forte sensibilidade ao tiro
14. Pelagens pretas em todas as suas tonalidades
15. Cinza rato
16. Cinza azulado
17. Fundo cinza com malhas pretas
18. Albinismo pronunciado
19. Apatia
20. Linha inferior esgalgada
Gravíssimas
1. Cabeça pequena
2. Rima labial ângulo agudo (“V” invertido)
3. Andar sem gingar
4. Pele não solta
5. Lábios superiores muito curtos ou muito profundos
6. Olhos Salientes
7. Timidez
8. Jarretes de vaca
9. Crânio fugidio
10. Testa com rugas
11. Prognatismo superior ou inferior
Graves
1. Passo curto
2. Ossaturas Leves
3. Peito pouco profundo
4. Garupa mais baixa do que a cernelha
5. Linha superior carpeada ou selada
6. Mordedura em torquês
7. Barbelas formando papadas
Faltas Leves - tudo que se afaste do descrito neste Padrão e não contidas nas faltas descritas.
Dar-se-á preferência ao exemplar com várias faltas de menor gravidade àquele com uma ou duas faltas de maior gravidade.
A prova de temperamento e sistema nervoso deverá ser obrigatória, em todas as análises e exposições, para os exemplares com idade igual ou superior a 12 (doze) meses. Fica a cargo do árbitro responsável a sua forma de execução.
É expressamente proibido bater no animal.